1 de novembro de 2011

Meu ponto de vista


Olá

Hoje decidi postar por aqui, um pequeno “desabafo” sobre a notícia que tem mexido com as redes sociais e mídias em geral: o câncer na laringe do ex-presidente Lula.

Quando soube da notícia, não me surpreendi muito, pois infelizmente o câncer é uma doença que não escolhe idade, etnia, cor, sexo... Ele simplesmente aparece em um momento, onde e quando não imaginamos.

No domingo pela manhã, quando vi uma campanha pelo Facebook para apoiar o tratamento do ex-presidente pelo SUS (Sistema Único de Saúde), fui a favor, pelo seguinte motivo: enquanto nenhum político passar ou vivenciar sua experiência por esta rede, nenhum deles saberá o que o povo brasileiro enfrenta para tratar esta doença.

Sei pelo qual um paciente de câncer passa e enfrenta durante todo o seu tratamento. Sei que é complicado enfrentar filas (seja para marcar um exame, um retorno, um novo especialista, uma ida ao Pronto Socorro), demoras (em salas de espera cheia, em datas vagas para o exame solicitado pelo médico), angústias, e que “com a saúde não se brinca”. Eu não desejo à ninguém (do fundo do meu coração) que ninguém passe pelo que eu enfrentei e lutei com a minha mãe durante todos os seus anos. E, se tiver que passar, conte com o meu apoio, com as minhas histórias, para lutar e seguir em frente com a vida. Os mais próximos sabem como foi, para mim, certos momentos que passamos, onde também precisei de muito apoio (dos amigos) para seguir a luta. Por isso, eu sou uma das pessoas que crê, um dia, numa melhora do sistema de saúde brasileiro.

Eu sempre agradeço pelo fato dela ter feito seu tratamento pelo SUS, uma vez que não teríamos condições de bancar seu tratamento em rede particular, pois ele é caro. Não paguei uma cirurgia (e foram duas), não paguei uma medicação (além dos remédios do câncer – que ela tomou vááários -, mamãe também era cardíaca e tomava remédios para hipertensão, colesterol, diabetes, etc), não paguei por sessões de quimioterapia ou por radioterapias, não paguei por um exame (foram várias cintilografias, radio X, ressonâncias magnéticas e outros que nem me lembro mais o nome). Sempre tivemos a paciência de aguardar e rezar pela graça de termos tratamento e, sempre, sermos amparados, por uma equipe médica – de todas as especialidades possíveis que passamos - maravilhosa (desde o começo até o final) que cuidou de mamãe com muito carinho e motivação.  

Quando você vai ao hospital (que, no nosso caso, começou no Hospital das Clínicas de SP, para depois irmos ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – lembro ainda que fomos uma das primeiras pacientes a serem “transferidas” por lá. Foi uma emoção muito grande. E vocês viram que coisa interessante? Quando a minha mãe descobriu o câncer, o Icesp ainda não existia), conhece pessoas com histórias diferentes, aprende e ensina coisas sobre a vida. Durante uma das várias sessões de radioterapia que mamãe fez, conhecemos uma mãe que estava com a filha (de 06 anos) em tratamento havia mais de um ano. Ela morava em uma casa de apoio do Governo (sim, elas eram de outro Estado) e não via o marido e os outros filhos desde que a filha veio transferida para SP. Imaginem como era a vida dessa pequena família por aqui. Foi uma emoção muito grande quando elas receberam alta (gritamos todas juntas na sala de espera – tamanha era a felicidade de todas - , esquecendo que estávamos em um hospital) e que passariam o Natal perto dos seus. Mais emocionante para mim, foi ver esta menina, dizer com muito carinho, para eu mandar um beijão para a minha mãe (que estava na sessão), pois ela não teria como se despedir. Na mesma sessão, conhecemos uma jovem senhora (com menos de 40 anos) que estava chateada com o câncer de mama. Conversando, contamos que o apoio da família era fundamental e que era ótimo vê-la sempre acompanhada de alguém por lá. Outro, de uma senhora que acompanhava o marido. Falávamos sobre tudo: como começou a doença, os sintomas, as cirurgias, os médicos.... sabendo que cada caso e cada paciente reage de uma maneira diferente ao processo. Depois falávamos sobre as famílias, os sonhos, os desejos, as vontades.... Afinal, mesmo em um momento de luta, precisamos compartilhar felicidade também, não concordam?

Esses são apenas três casos que conto, mas, foram inúmeras pessoas que passaram em nossas vidas, nos longos 07 anos de tratamento que mamãe viveu. Foi uma jornada incrível, onde só quem acompanha e convive com um paciente com câncer aprende a lidar com as dores e as alegrias que a vida nos faz passar. Sabe dar valor à vida, à esperança, à perseverança e seguir um sonho: a CURA.

Vimos também casos de pacientes que iam e voltavam sozinhos, pois os parentes simplesmente o ignoraram e disseram não ter tempo para cuidar deles. Detalhe: dizer isso em um momento onde mais precisam de apoio, é triste de se ouvir. E, acreditem, mas muitos desses pacientes eram idosos e alguns tinham algum problema de locomoção...

Como já disse antes: não quero ser preconceituosa ou dizer o que é bom ou ruim. Mais uma vez, agradeço de coração o apoio de TOOOOOOOOOOOOOOODA a equipe médica que nos atendeu, sempre com muito carinho e dedicação. Essa equipe, esses médicos são aqueles que tem um lugar mega guardado no meu coração, pois nos ensinaram (e sei que também aprenderam) muuuuuuuuuuuito. Mas, gostaria apenas que, por um momento, as pessoas pudessem ver a realidade daquilo que vivemos e assim, se conscientizassem um pouco mais sobre aquilo que mais prezamos: A VIDA!

Desejo que o Lula melhore, sim, claro. Quem sou eu para não prezar a vida de alguém, seja ele um político ou um morador de rua?! Se ele tem condições de freqüentar um bom hospital, ótimo para ele. Mas, por um momento, a realidade da população brasileira é outra e, neste caso, acho que não haveria discriminação ou preconceito algum para um tratamento ser melhor ou mais privilegiado que o outro, pois todos os pacientes passam pelo mesmo tipo de condição.

O que aprendi com essa lição de vida?! De ter convivido pessoalmente com uma pessoa com câncer? Que cuidar da saúde é importante e que lutar por ela e pela vida, são direito e dever de cada um. Mesmo com tantas dificuldades, com tantos obstáculos que surgiram, mamãe sempre foi guerreira e nunca desistiu. Sabem que, mesmo carequinha ou de lenço, algumas pessoas desacreditavam que ela estava mesmo doente?! Pois mamãe sempre sorriu, seja qual foi a “lombada” que apareceu durante seu tratamento. Essa é a imagem que eu (e outras pessoas, certamente) levo comigo, dentro do meu coração e para todo sempre, de uma guerreira, que infelizmente, perdeu a luta contra o câncer há quase 08 meses (para quem não sabe do que escrevo, por favor, veja o post que fiz para ela no link: http://hitsblablabla2.blogspot.com/2011/03/minha-homenagem-uma-guerreira.html).

“Sou brasileiro e não desisto nunca”, não é um lema que nossa noção usa?! Por isso, vamos lutar. Lutar pela cura, pela felicidade, pela saúde... E acabar de vez com esse preconceito que existe.

Saudades, “velha”... Saudades da pessoa que sempre acreditou em mim e que nunca me fez desistir de meus sonhos, NUNCA! Só quem conviveu ou convive com uma pessoa com câncer, sabe que o exemplo de superação que eles nos deixam e nos transmitem. Sabem a lição de vida que eles nos proporcionam e nos oferecem. Eu sou uma dessas pessoas que viveu de perto, tudo o que uma das pessoas mais importantes de sua vida, puderam passar. E sei, como é difícil superar, aprender e lutar a dor que essa “praga” deixa em nossos corações e como lição de vida. 

Saudades, "velha feliz"... Saudades das brigas, dos ensinamentos, das risadas, das histórias, das lições de vida, dos passeios, do carinho, dos abraços, dos beijos, do sorriso... e da pessoa que a senhora foi para mim. Apenas saudades, nada mais. 

SAÚDE À TODOS!!! 
(Sejam os cuidados na rede pública ou privada)

PS: Desculpem se fui grosseira, arrogante ou destemida. Eu apenas senti vontade de expor meus sentimentos sobre essa “polêmica atual” e decidi ser sincera, principalmente, comigo mesma. 

PS2: Esse é apenas o MEU PONTO DE VISTA. Não quero fazer apologia, crítica etc sobre o caso, ok?

PS3: Impossível não comentar que, lágrimas ainda teimam em cair, ao lembrar daquela mãe que simplesmente era "o máximo"! 

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